Quem de nós umbandistas já não passou por algum
tipo de constrangimento, seja por perguntas que não se sabe como responder,
seja por preconceito, pré-conceito ou mesmo por insinuações maldosas em relação
à Umbanda?
Com certeza são situações e cenas tristes que
acabam desmerecendo e ridicularizando a Beleza e a Força da Umbanda.
No entanto, a culpa não deve ser atribuída somente
a quem questiona, ridiculariza ou desdém da Umbanda, mas também a aqueles umbandistas
que verdadeiramente não confiam, não assumem, não amam e até se envergonham de
sua religião. Prova disso é saber que 90% dos umbandistas negam a força que os
sustentam dizendo que são católicos ou espiritualistas.
Mais triste ainda é saber que
muitos umbandistas não sabem nada sobre sua religião, aliás, não sabem nem que
a Umbanda É Religião.
É por isso que quando leio um texto como esse que
vem abaixo, que é uma “simples resposta” a uma sequência de questionamentos
maldosos em relação à Umbanda, fico muito feliz e orgulhoso por Ser Umbandista
e por trabalhar pela valorização cultural, doutrinária e religiosa da Umbanda.
E para que TODOS vocês, também
possam se orgulhar da Umbanda ou, quem sabe, conhecê-la um pouco mais,
transcrevo tal texto para que sirva como um bom exemplo para as perguntas
“pré-conceituosas” que recebemos continuamente.
Aliás, com autorização já cedida pelo
médium, fiquem à vontade para recortarem esse texto e deixá-lo sempre à mão
para que possa ser usado sempre que necessário.
Cara
irmã...
“A Umbanda é uma religião magística e
ritualística por excelência. Existem muitos charlatões que se dizem umbandistas
e disseminam a idéia totalmente equivocada de que, ao deixar de fazer
determinado ritual ou “trabalho”, o indivíduo seria punido, como se estivesse
amarrado, preso, “pouco livre”.
A verdade é que deixar de fazer um ritual
como banho de ervas, defumação, ou até acender um charuto que foi pedido não
trará nenhuma consequência séria ao indivíduo. Entretanto esses elementos possuem
condensações energéticas (matéria é energia, como prova a bomba atômica)
que auxiliam os fins espirituais de duas maneiras distintas: Primeiramente
ajudando na concentração mental dos indivíduos e em segundo servindo como meios
para transmutação de energias mais densas.
Nós umbandistas acreditamos que nem todos os
seres encarnados são capazes de elevar seus pensamentos a ponto de atingir os
níveis vibracionais mais altos. Muitas vezes sentimos aquela atmosfera de
“saco-cheio” dentro de reuniões católicas, kardecistas, umbandistas ou em
qualquer outra manifestação religiosa, o que atrapalha as atividades
espirituais. Gente que dorme, ronca e depois tem a cara de pau de dizer que fez
uma “viagem astral”. Por isso nos utilizamos, assim como os católicos,
evangélicos, kardecistas e muitos outros, de “alegorias” e arquétipos, pois
eles auxiliam os “fiéis” tanto na concentração quanto na compreensão. Por
exemplo, nós não acreditamos que uma estátua de gesso é uma representação
concreta de Jesus. Para nós, Jesus, que é sincretizado por Oxalá, é a vibração
divina da Fé e do Amor Universal. É um atributo de Deus (Olorum), assim como o
amor (Oxum), o conhecimento (Oxóssi), a lei (Ogum), a justiça (Xangô), a
evolução (Obaluaiê) e a geração (Yemanjá). Esses são apenas nomes que têm suas
raízes históricas africanas, mas essas sete irradiações divinas são universais,
assim como a Lei de Causa e Efeito, a Lei da Atração e da Afinidade.
Entretanto, como isso é muito
abstrato para a maioria da população, a existência de uma imagem dessas em
nossos Terreiros ajuda as pessoas a se concentrarem quando pedimos que pensem
em Oxalá (Jesus).
Nós não cultuamos São Jorge, que foi
“apenas” um espírito encarnado como nós, mas sim a Lei Divina, sincretizada por
nós umbandistas, como Ogum. Cultuamos Ogum porque ele é a irradiação Divina da
Lei, que deve ser expressa através de ações no nosso dia-dia. Da mesma forma
não cultuamos Nossa Senhora, e sim Oxum, que representa o amor incondicional
que foi pregado por Jesus e que deve ser praticado através de nossa reforma
íntima e de nossas ações.
O mesmo ocorre com o som das palmas e dos cantos,
que com letras simples fazem com que as pessoas compreendam um pouco mais nossa
religião, que pretende ser universal, auxiliando tanto os que sabem
quanto os que menos sabem.
Quando um praticante toma um banho de ervas, ele
sente o cheiro da erva, lembra das músicas que ouviu no Terreiro... Enfim,
procuramos tocá-lo pelo emocional, afinal a Umbanda é brasileira e não
anglo-saxônica. Assim, ela se permite ser emocional, também.
O mesmo ocorre com os
arquétipos de caboclos, pretos-velhos, crianças e claro, dos exus. É muito mais
fácil entender a simplicidade e humildade através de um espírito “vestido” como
preto-velho, do que através de um espírito evoluído que relata suas encarnações
de forma mais intelectualizada. Na mesma linha, é fácil associar a força e
integridade ao arquétipo de um índio, o amor incondicional através do arquétipo
de uma “criança”, que simboliza a pureza de alma. A Umbanda é realmente cheia
de simbolismos.
Mas os
itens materiais ritualísticos utilizados na Umbanda também têm uma função
plasmática, físico-energética, por assim dizer. Acreditamos na existência de
salamandras (fogo), ondinas (água), gnomos (vegetais), que se fazem presentes
nos charutos (fogo + ar); na água ou café dos pretos velhos; nos banhos de
ervas. Águas podem ser excelentes condutores eletromagnéticos. O ar que uma
entidade solta através de uma baforada de charuto é uma associação de
ectoplasma e elementais do ar. Nenhum
umbandista sério acredita que um espírito elevado precisa comer, beber ou
fumar. Na verdade esses elementos são simbólicos e energéticos.
A Umbanda não sacrifica animais, apesar de
respeitar os rituais milenares, reproduzidos no Candomblé, que eram
apenas simbólicos, pois as tribos comiam a carne como forma de comunhão após as
cerimônias religiosas. Esse negócio de matar uma galinha e deixar para o
espírito comer é considerado por nós um ritual sem sentido.
A necessidade ritualística da Umbanda pode ter a
função de potencializar atos espirituais e mágicos. Quando nós interagimos,
através da ação ou da oração, ou melhor, dos dois juntos, estamos nos
concentrando, trabalhando em um tipo de ato disciplinar. Quando Chico
Xavier perguntou a Emmanuel o que seria necessário para ser um bom médium, este
respondeu: Três coisas. Disciplina; disciplina e disciplina. Nossos atos
magísticos, além das funções supracitadas, possuem ainda a faculdade de nos
alinhar na disciplina, pois não são todos que conseguem manter a concentração
apenas rezando. As diversas ações ritualísticas nos mantêm vivos e
concentrados.
Apesar disso, acreditamos que aquele que acende
uma vela sem fé não está produzindo magia ou um ato religioso. A vela, nesse
caso, é somente parafina e pavio. Os elementos materiais na Umbanda são um meio
e não um fim.
Por outro lado, quando se tem raiva de alguém não
é preciso despachar pinga na encruzilhada para produzir cordões energéticos
negativos, bastam os sentimentos de raiva, ira, inveja... para que os milhões
de obsessores que estão vagando por ai se afinizem a esse sentimento negativo
produzido por qualquer ser humano envolvendo-o numa espiral negativa.
Agora, dentro da minha crença ou, se você achar mais adequado, dentro da minha
superstição, ao associarmos raiva, inveja e outros sentimentos negativos ao
ritual com pinga, charuto, galinha e etc, estaremos potencializando ainda mais
essa negatividade toda. É isso que o pessoal chama por ai de macumba *!
E nossos guardiões estão por ai colocando a mão no
lodo, nos processos desobsessivos agressivos dentro da Umbanda, pois não basta
só oração para tirar as pessoas dos umbrais terrenos. Afinal, de boas intenções
o inferno está cheio e muitas vezes é preciso a atuação de um Exu de Lei que tem
a coragem, a humildade e a abnegação de se paramentar com uma roupagem mais
densa e chegar até esses pântanos espirituais, subornando quiumbas e obsessores
com pinga e moedas para tirá-los do caminho da forma mais rápida, destruindo
umbrais e fortalezas demoníacas.
Nossa religião é livre, apesar de termos nossos dogmas. Ninguém é perfeito, mas
aceitamos e debatemos a verdade de todos, com clareza e transparência.
Paz e
Luz
*Nota: o termo macumba vem do nome que se dava à madeira utilizada pelos escravos
para a produção de atabaque e nada tem a ver com magia negra.”
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