Com alguma regularidade, médiuns de todo país solicitam ser consagrados sacerdotes de Umbanda. Contam suas histórias, algumas bem “mirabolantes”, cheias de pirotecnia, mas a grande maioria também não menciona o tempo de trabalho em terreiro, orientações consistentes de guias e protetores e experiência mediúnica prática.
Geralmente falam que estão insatisfeitos com o terreiro em que trabalham , que o dirigente não tem conhecimento de causa, que não concordam com a forma como os trabalhos são dirigidos, se sentem colocados em segundo plano e/ou que receberam ordem de seu caboclo ou preto velho para abrir um terreiro.
Agravam-se estes queixumes quando os pretendentes à consagração sacerdotal não aceitam os ritos do terreiro que estão vinculados, achando-se melhor que todos os demais, preparados, coisa e tal. Não é incomum, imputarem ao chefe de terreiro como deve ser a sua vida pessoal fora do centro, num patrulhamento "moral" pior que o da inquisição, como se para estar à frente de um congá tivéssemos que ser um Francisco de Assis, Chico Xavier ou Gandhi. Muitas vezes, estas criaturas se preocupam mais com os outros que com elas mesmas, e por sua rigidez psicológica, acabam sendo eternos insatisfeitos, pois mudam regularmente de agrupamento e nunca encontram satisfação de suas almas, dado que condicionam ao exterior e aos outros sua felicidade e bem estar espirituais, esquecendo-se de olharem para dentro de si mesmos.
Alegam possuírem humildade, quando se percebe claramente que é uma “falsa humildade”, pois estão na realidade, movidos pela vaidade, prepotência e/ou aspiração de poder e o status de pai ou mãe no santo. Ah! Se esses médiuns pudessem compreender as dificuldades e profundas responsabilidades que vem com esse pretenso “poder”!!!
Em função disso, resolvi escrever esse artigo que visa apenas chamar a atenção daqueles que acham ou acreditam que num passe de mágica se dá a coroação ou consagração de um sacerdote umbandista. Em primeiro lugar se deve deixar bem claro que Umbanda Consagra e que “fazer o Santo” não é ritual de Umbanda.
Aos que acreditam que a consagração se dá através apenas de vontade de ser consagrado, pode “tirar o cavalinho da chuva”, porque não se aprende em livros, cursos e escolas.
Agrega-se muito estudar e ler porém não somente isso.
Umbanda se aprende dentro do terreiro, em cada consulta, em cada gira, em cada atividade social, em cada louvação a Orixá. Nada substitui e nem é maior do que a bênção da orientação confirmada das entidades que nos orientam, e essa orientação sempre estará relacionada a maturidade mediúnica demonstrada pelo médium para com a sua banda e para com o trabalho da Umbanda, o que não ocorrerá da noite para o dia. Portanto, nada! Guia, protetor ou mentor algum irá dar essa orientação se o médium tiver recém ingressado nas linhas de trabalho da Umbanda. É necessário um tempo de preparação interiorizando- se a essência da umbanda, sua simplicidade, amor e caridade. Uma vez que todos eles – os Guias, Protetores e Mentores, sabem a importância para seus médiuns em vivenciarem as etapas necessárias no aprendizado até chegarem a uma Consagração Sacerdotal.
Na realidade existe um “termo” que chamo de “coroa de chefia” ou coroa de comando. Trata-se apenas de um termo que uso para diferenciar os grupamentos de médiuns.
O termo Consagração quer dizer aprovação, ou seja, outorga espiritual da Banda que acompanha o médium, bem como da Cúpula Espiritual da Casa onde o médium faz parte da corrente. Quando chega a hora a entidade chefe do médium começa a sinalizar consistentemente que “alguma coisa” precisa ser feita. Lentamente, vai se formando no mental do médium os caminhos que deve trilhar para descobrir o que é essa “alguma coisa”. Através do tempo, da consistência de trabalho, tudo começa a ficar mais claro no mental do médium, que deve se dirigir ao seu sacerdote e dividir com ele as suas orientações (isso quando o seu próprio guia não o faz). Os guias sempre falam que não adianta querermos avançar se não dominamos nem o simples, o trivial, o cotidiano.
Quem não sabe obedecer jamais poderá comandar!
Acredito que todos deveriam passar por ritos litúrgicos. E todos, mesmo com suas experiências individuais de anos de trabalho, devem ter humildade suficiente para ver a necessidade de serem consagrados. E mesmo assim, perseverar! Isso é um fator determinante para ser um sacerdote. É aí que deve sempre nortear o caminho do médium o desejo sincero de servir, pois na sabedoria assim se diz: “Quando o discípulo está preparado o mestre aparece.”
Nada deve ser cobrado financeiramente ou materialmente. Entretanto, muito lhes deve ser exigido de dedicação, conhecimento, experiência e humildade mediúnica, coisas que para tal deve ser absolutamente natural, devem trazer em seu ori a essência de ser sacerdote.
Esta preparação sacerdotal do consagrado, inicia-se muito antes, encarnações e encarnações forjando o espírito para este momento existencial cármico de extrema responsabilidade. Por isto, não basta querer ser, "estar sacerdote". O espírito tem que SER verdadeiramente, vibrar em sua natureza de dentro para fora, para que o rito externo seja uma consolidação, um meio de ligação e assentamento no plano material de sérios compromissos espirituais assumidos de longa data pretérita.
Outro fator interessante de ser ressaltado é que nem todos que eu tenho a graça de visualizar a “coroa de chefia”, são para serem consagrados por essa CASA, pois como nós sacerdotes sempre precisamos aprender mais e trocar conhecimentos, é necessário uma egrégora unida e para isso afinidade de pensamento e orientação missionária entre os mentores de cada Casa. É necessário que haja união, empatia e afinidade entre nós todos, os sacerdotes, pois apesar de eu ser o veículo utilizado materialmente pelo Alto para consagrá-los, não me posiciono “acima” deles, pois sou apenas o elo de ligação material entre todos. Quando os médiuns estão em sintonia com a CASA e fazendo jus a uma consagração por tudo o que já foi exposto acima, eles entenderão que muito mais que estar na Casa ou ser consagrado pelo Sacerdote da Casa, ele em si é a própria Casa, é uma semente Dela, uma extensão da mesma. Sendo cada qual uma viga importante da viga mestra dessa construção. Então, nesse contexto, na Casa a vitória de um é a de todos.
Isso explica o fato de muitos levados pela fraqueza e necessidade da busca material não atravessar um Grande Portal, onde a senha para o mesmo é caridade, caridade, caridade. Por isso é bom cada qual refletir ante ao que o move.Reflexão e direcionamento.
Eu não brinco de fazer Umbanda! Meu compromisso é com os guias, protetores, mentores e Orixás. Até porque quando recebo um médium em nossa CASA estou assumindo um compromisso e uma responsabilidade com seus Orixás e guias.Mas se não houver afinidade missionária, não dá prá ser. Se não houver disciplina e respeito pela doutrina da CASA não vai acontecer. Não vai haver evolução a relação se desgasta e amenos que exista um reforma íntima e resignação o médium acaba por sair da CASA.Temos que respeitar a afinidade de cada criatura. Afinal, na umbanda que praticamos um sacerdote não prescinde de ser médium, ao contrário de outras religiões e cultos, que a consagração sacerdotal não tem como pré-requisito a mediunidade. Assim, se o que te move ao encontro da insígnia sacerdotal são os títulos de mago, mestre, babalorixá, yalorixá,...; natural que deva procurar outro terreiro mais afim com seus anseios espirituais, mesmo que não seja na umbanda. Assim também muitos vêm para a umbanda de outros cultos, como o pólen das flores que se espalham num imenso jardim existencial, plasmado pela diversidade das almas neste planeta. Afinal de contas como dissera certa vez Sr Zé Pilintra: “a Umbanda não é um show! E se há algum filho na corrente com essa intenção digo desde já, que está em local errado! Não tendo a Umbanda nascido ainda em seu coração.”
Minha preocupação maior sempre será manter essa CASA unida para ser forte, pois não é nosso objetivo ter 200 médiuns, mas sim à qualidade de trabalho, que só se dá com afinidade de propósitos de expandir a caridade, respeitando o livre-arbítrio de cada um, as orientações dos mentores de cada um, a experiência de cada um, tendo sempre em mente as orientações primeiras do Sr Tupinambá, que são: jamais haver nenhum tipo de cobrança por nada sagrado (consultas, trabalhos, passes); Jamais ceder a vaidade e a prepotência, E todo médium deve sentir a Umbanda correndo em suas veias, se emocionar ao ouvir o som dos atabaques, trabalhar com dedicação e comprometimento entre outros adjetivos
Portanto, existe fórmula mágica! Plim! Agora você é um sacerdote! Na maioria dos casos houve trabalho, muito trabalho antes disso. Eles foram médiuns de trabalho! Limparam terreiro (faxina mesmo), deram muita consulta, cuidaram muito dos terreiros que se desenvolveram. Nada foi de “mão beijada”, mas foi natural em suas vidas.
Com tudo isso explicado, espero que antes de entrar em uma casa achando-se ou sentindo-se melhor médium do que seus irmãos de caminhada, pensem e revejam mesmo se é isso que o Alto deseja. Veja se tem condições espirituais e financeiras de iniciar um terreiro, pois quando é prá ser, o Alto nos mostra o caminho e nos dá condições. Até porque o sacerdote não é melhor médium que ninguém, mas sim é o que mais tem a resgatar e a espiritualidade superior achou por bem lhe dar essa “coroa de chefia” para auxiliá-lo nesse resgate.
Para ser sacerdote consagrado é preciso amar a Umbanda incondicionalmente, encarar a sua missão com seriedade, alegria e humildade. Ter a consciência de que está em nossas mãos o Futuro da Umbanda. O som do atabaque, a inspiração das curimbas, riquezas essas que não silenciaram nem sob chicotes, nem sob escravidão, nem sob a forma mais bruta e grotesca de homens que se diziam civilizados. Ter essa consciência é, acima de tudo, trazer e fazer no nosso tempo a alegria que foi roubada no passado. Entendendo que não somos melhores do que ninguém, mas sim os mais necessitados de amparo do Alto, para honrarmos a missão que nos foi confiada. Portanto, tem antes que aprender a ser médium! E aprender a ser médium não é só incorporar Guia, sentir vibração das energias-Orixás e dar consulta. Antes tem que aprender a ser gente.
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